“Mesmo que não percebamos, nossa práxis, como educadores, é para a libertação, dos seres humanos, sua humanização ou para a domesticação, sua dominação”. (Freire in Barreto, 2004)
Araújo (2005) coloca que a escola objetiva disponibilizar as mesmas condições de de ensino e aprendizagem. Como? Assim podemos entender que o sujeito único e pluridimensional, está sendo desconsiderado. Dessa forma, as particularidades de cada aprendente estão sendo descartadas e estes devem ser enformados para que se produza a sociedade que se deseja.
De acordo com Araújo a Educação Básica, "produz" sujeitos que ao final deste período de escolaridade ainda não dominam a leitura e a escrita. Atualmente vivo esta realidade. Trabalho em uma escola pública no 3º distrito de Duque de Caxias (Estado do RJ) e percebo a grande diferença entre os dois públicos. Sempre trabalhei em escolas particulares e neste ano minha realidade mudou. E muito...
Enquanto em muitas escolas particulares as crianças chegam ao 1º ano com excelentes conceitos construídos sobre a língua escrita (muitas já são capazes de produzir pequenos textos!), nas escolas públicas a realidade é outra. O contexto no qual estas crianças estão inseridas não é considerado no momento da escolarização. Apenas a educação dita elitista e muito distante daquilo o que é vivido por elas é levado para as salas de aula. Com isso, é nítida a falta de interesse das crianças pelos conteúdos. Afinal, o que lhes será realmente útil? De fato, se torna muito difícil para uma criança que mora em um município no qual muitas ruas não possuem água encanada, e que não saem de seus bairros por falta de condições financeiras, compreenderem o que são condomínios com piscina e todo o tipo de serviços ali tão pertinho. Entendendo que a escola não possui a função de excluir, como a mesma é capaz de produzir excluídos, em larga escala?
“Uma das principais tarefas da pedagogia crítica radical libertadora...é trabalhar contra a força da ideologia fatalista dominante, que estimula a imobilidade dos oprimidos e sua acomodação à realidade injusta, necessária aos movimentos dos dominadores. É defender uma prática docente em que o ensino rigoroso dos conteúdos jamais se faça de forma fria, mecânica e mentirosamente neutra”. (Freire, 2000)
Os materias didáticos produzidos para as escolas particulares é bem diferente daqueles que são distribuídos para as escolas públicas. Se fosse apenas o fato de serem livros "consumíveis" e "não-consumíveis" seria ótimo. Analisando ambos os materiais, fica muito claro o que se espera das crianças que são fruto das instituições educacionais públicas. Além da qualidade gráfica, há também, a supressão de conteúdos.
Nessa “produção de excluídos” não podemos esquecer que a formação de professores é bastante deficiente nesse sentido. O curso em nível médio não forma profissionais, efetivamente, capazes de recriar a realidade vigente. Assim, é possível perceber que a reprodução das práticas já existentes se torna o caminho mais plausível aos olhos de quem acabou de entrar no mercado de trabalho e não sabe o que fazer com aquele “aluno impossível”, por exemplo.
É urgente que o sistema educacional considere as várias realidades presentes neste país de tamanho continental. Não é possível um único modelo de prova servir para avaliar todo o ensino de um país tão plural em sua cultura.
REFERÊNCIAS:
BARRETO, Vera. Paulo Freire para educadores. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.
FREIRE, Paulo, Pedagogia da Indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
PINHEIRO, Odnea Quartieri Ferreira. Fundamentos da Psicopedagogia. POSEAD,2010.
Silvana Fernandes. Graduada em Pedagogia (habilitações em EJA e Magistério das Matérias Pedagógicas), UERJ, 2001; Pós-Graduanda Psicopedagogia POSEAD; Profª Ed. Infantil e 1º Ano de Escolaridade - S.M.E. Duque de Caxias.
psico.silvanafernandes@yahoo.com.br