FALANDO SOBRE EDUCAÇÃO...

"As crianças são seres sociais, têm uma história, pertencem a uma classe social, estabelecem relações segundo seu contexto de origem, têm uma linguagem, ocupam um espaço geográfico e são valorizadas de acordo com os padrões do seu contexto familiar e com a sua própria inserção nesse contexto. Elas são pessoas, enraizadas num todo social que as envolve e que nelas imprime padrões de autoridade, linguagem, costumes."

Sonia Kramer

FONTE: http://www.mre.gov.br/dc/textos/revista7-mat8.pdf

sábado, 28 de abril de 2012

DISLEXIA – UM INIMIGO SILENCIOSO

A dislexia é uma dificuldade no aprendizado que segundo algumas pesquisas feitas até hoje atinge de 6 a 10% da população mundial. Pessoas disléxicas podem encontrar muitas dificuldades em seu dia-a-dia mas, nenhuma delas se compara com as dificuldades encontradas na sala de aula.

Notas baixas, evasão escolar, dor de cabeça, depressão e até delinqüência (já que muitas pessoas marginalizadas acabam por também serem disléxicas) são alguns dos problemas que já foram ligados a dislexia em sala de aula. Alunos disléxicos, em sua maioria, se sentem isolados e incompetentes, pois tem de conviver com uma seqüência de resultados negativos ligados a forma como processam os símbolos usados na leitura, escrita e até na matemática.
Em alguns países, como os europeus, a dislexia tem status de deficiência, porém, isso não quer dizer que os disléxicos que vivem nestes países não façam determinadas atividades ou exerçam certas profissões, muito pelo contrário, nesses países, “suas necessidades especiais” têm uma atenção especial das instituições de ensino e empresas.
Em todo o mundo escolas e empresas podem e deve fazer muito para melhorar a vida dos disléxicos. Ações simples, como fixar nomes de funcionários nas portas, entradas de departamentos e crachás, ajudam a minimizar problemas de memória; o uso de um processador de texto, com corretor ortográfico, reduz o tempo e a energia gastas com problemas de grafia e ortografia; e por último, a disponibilização de informação em formas complementares, como em formato de áudio, audiovisual, impressos e diagramas facilitam a compressão e absorção do conteúdo.
É importante lembrar que a dislexia não é uma doença. Na verdade ela (parece) interferi na forma que certas pessoas usam e reconhecem símbolos. Os que sofrem de dislexia tende a ter problemas com leitura, escrita e grafia, que são comuns em crianças e também em adultos disléxicos. Caro leitor, só para exemplificar. - Imagine as dificuldades resultantes de se ter apenas 23 letras para representar 31 fonemas… Este é exatamente o caso da língua portuguesa.
Apesar de todas as dificuldades, os que sofrem de dislexia apresentam uma inteligência e criatividade peculiar.
Texto: Fábio Batista Santos (Mestre em Comunicação pelo Goldsmiths College, University Of London – Reino Unido) – Edição: Wanessa Marçal

A dislexia como fracasso inesperado

Texto extraído do Facebook em 28/04/2012. Por Patrícia Fernando, sexta, 22 de Julho de 2011 às 20:49 · A dislexia escolar é um fracasso inesperado. A escola e o aluno oferecem condições objetivas para o aprendizado da leitura. No entanto, a aprendizagem falha - na verdade, falha o método de ensino de leitura levado a efeito pelo docente. A dislexia, segundo Jean Dubois et al. (1993, p. 197), é um defeito de aprendizagem da leitura, caracterizado por dificuldades na correspondência entre símbolos gráficos, às vezes mal reconhecidos, e fonemas, muitas vezes mal identificados. A dislexia, segundo o lingüista, interessa de modo preponderante tanto à discriminação fonética quanto ao reconhecimento dos signos gráficos ou à transformação dos signos escritos em signos verbais. Assim, para a lingüística, a dislexia não é uma doença, mas um fracasso inesperado (defeito) na aprendizagem da leitura, sendo, pois, uma síndrome de base pedagógica e lingüística. A dislexia também não é desleixo, é uma diferença individual de aprendizagem, uma espécie de ritmo ou de variação "lectogênica" (maneira de ler) que cada educando tem para aprender a ler, por força de sua idiossincrasia lingüística. A dislexia, aquela persistente com o passar dos anos, pode ser descrita, explicada e sofrer a intervenção psicopedagógica. As causas ou a etiologia da síndrome disléxica são de diversas ordens, e dependem do enfoque ou da análise do investigador. Aqui, tendemos a nos apoiar em aportes da análise lingüística e cognitiva, ou simplesmente da psicolingüística. Muitas das causas da dislexia resultam de estudos comparativos entre disléxicos e bons leitores. Podemos indicar as seguintes hipóteses: a) de déficit perceptivo; b) de déficit fonológico; c) de déficit na memória. Atualmente, os investigadores na área de psicolingüística aplicada à educação escolar apresentam a hipótese de déficit fonológico para justificar, por exemplo, o aparecimento de disléxicos com confusão espacial e articulatória. É sobre essa hipótese que fundamentamos nossos comentários sobre a síndrome da dislexia. Desse modo, são considerados sintomas da dislexia relativos à leitura e escrita os seguintes erros: 1. Erros por confusões na proximidade especial: a) confusão de letras simétricas (p-b, d--q); b) confusão por rotação; c) inversão de sílabas. 2. Confusões por proximidade articulatória e seqüelas de distúrbios de fala: a) confusões por proximidade articulatória (fonemas surdos e sonoros como /g/ e /k/, como em /katu/ por /gatu/); b) omissões de grafemas; c) omissões de sílabas.As características lingüísticas das habilidades de leitura e escrita mais marcantes das crianças disléxicas são: Acumulação de erros de soletração ao ler e de ortografia ao escrever, além de persistência nesses erros; Confusão entre letras, sílabas ou palavras com diferenças sutis de grafia: a-o; c-o; e-c; f-t; h-n; i-j; m-n; v-u etc.; Confusão entre letras, sílabas ou palavras com grafia similar, mas com diferente orientação no espaço: b-d; b-p; d-b; d-p; d-q; n-u; w-m; a-e; Confusão entre letras que possuem um ponto de articulação comum e cujos sons são acusticamente próximos: d-t; j-x;c-g; m-b-p; v-f; Inversões parciais ou totais de sílabas ou palavras: me-em; sol-los; som-mos; sal-las; pal-lap. Segundo Mabel Condemarín (1987, p. 23), outras perturbações da aprendizagem podem acompanhar os disléxicos: Alterações na memória; Alterações na memória de séries e seqüências; Orientação direita-esquerda; Linguagem escrita; Dificuldades em matemática; Confusão com relação às tarefas escolares; Pobreza de vocabulário; Escassez de conhecimentos prévios (memória de longo prazo). Nesse ponto, uma pergunta pode surgir: que fatores ou causas de ordem pedagógico-lingüística favorecem a aparição das dislexias? De modo geral, indicaremos causas de ordem pedagógica, a começar por: Atuação de docente não-qualificado para o ensino da língua materna (por exemplo, um professor ou uma professora sem formação superior na área de magistério ou sem formação pedagógica em nível médio, que desconheça a fonologia aplicada à alfabetização ou os conhecimentos lingüísticos e metalingüísticos aplicados aos processos de leitura e escrita); Crianças com tendência à inversão; Crianças com deficiência de memória de curto prazo; Crianças com dificuldades na discriminação de fonemas (vogais e consoantes); Vocabulário pobre; Alterações na relação figura-fundo; Conflitos emocionais; Meio social; Crianças com dislalia; Crianças com lesão cerebral. No caso da criança em idade escolar, a psicolingüística define a dislexia como um déficit inesperado na aprendizagem da leitura (dislexia), da escrita (disgrafia) e da ortografia (disortografia) na idade em que essas habilidades já deveriam ter sido automatizadas. É o que se denomina "dislexia de desenvolvimento". No caso do adulto, quando tais dificuldades ocorrem depois de um acidente vascular cerebral (AVC) ou traumatismo cerebral, dizemos que se trata de dislexia adquirida. A dislexia, como dificuldade de aprendizagem verificada na educação escolar, é um distúrbio de leitura e de escrita que ocorre na educação infantil e no ensino fundamental. Em geral, a criança tem dificuldade em aprender a ler e escrever e, especialmente, em escrever sem erros de ortografia, mesmo tendo o Quociente de Inteligência (QI) acima da média. Além do QI acima da média, o psicólogo Jesus Nicasio García assinala que devem ser excluídas do diagnóstico do transtorno da leitura as crianças com deficiência mental, com escolarização escassa ou inadequada e com déficits auditivos ou visuais. (1998, p. 144). Tomando por base a proposta de Mabel Condemarín (l989, p. 55), a dificuldade de aprendizagem relacionada com a linguagem (leitura, escrita e ortografia) pode ser inicial e informalmente (um diagnóstico mais preciso deve ser feito e confirmado por um neurolingüista) diagnosticada pelo professor de língua materna (formado em letras e com habilitação em pedagogia), que pode realizar uma medição da velocidade da leitura da criança, utilizando, para tanto, a seguinte ficha de observação, com as seguintes questões a serem prontamente respondidas: A criança movimenta os lábios ou murmura ao ler? A criança movimenta a cabeça ao longo da linha? Sua leitura silenciosa é mais rápida que a oral ou mantém o mesmo ritmo? A criança segue a linha com o dedo? A criança fixa excessivamente o olho na linha impressa? A criança demonstra excessiva tensão ao ler? A criança efetua excessivos retrocessos da vista ao ler? Para o exame dos dois últimos pontos, é recomendável que o professor coloque um espelho do lado oposto à página que a criança lê. O professor coloca-se atrás do aluno e, nessa posição, pode ver os movimentos dos olhos da criança no espelho. O cloze, que consiste em pedir à criança para completar certas palavras omitidas no texto, também pode ser um importante aliado na determinação do nível de compreensibilidade do material de leitura